As reformas da Assembleia da República
Em 30 de Março último foi apresentada na Assembleia da República uma proposta para “Reformar e modernizar a Assembleia da República para servir melhor as cidadãs, os cidadãos e a Democracia”. Decidi então ler as 96 recomendações que são explicadas ao longo de 99 páginas. A minha conclusão é que estamos perante um trabalho exemplar. Um documento que contribui para o reforço da nossa democracia, afirma o Parlamento enquanto centro do debate político e reforça o controlo da actividade governativa.
Decidi destacar 21 recomendações. O objectivo é divulgar este trabalho e as recomendações que na minha opinião são mais relevantes para aproximar os cidadãos do poder político. Não acrescentei nenhum comentário ou opinião. O que vai ler a seguir é retirado na íntegra do documento apresentado.
Os Projectos de Lei podem, na sua epígrafe, referir o nome do Grupo Parlamentar que o apresenta ou o do seu primeiro subscritor (recomendação nº 2)
Pretende-se valorizar a iniciativa política dos parlamentares e aumentar a visibilidade pública do seu trabalho que na maior parte dos casos é diluída na acção dos respectivos Grupos Parlamentares.
Realização de audições parlamentares aos indigitados para altos cargos do Estado (8.ª)
A Assembleia da República deve assumir um papel mais activo no processo de nomeação para os restantes altos cargos do Estado.
No caso do Governo ser o autor das iniciativas, estas devem ser acompanhadas dos estudos, caso existam, que as fundamentam (14.ª)
Este novo procedimento contribuirá para a melhoria da qualidade legislativa, da compreensão da iniciativa do Governo e, não menos importante, para evitar a duplicação de esforços processuais, bem como, a elaboração de estudos conexos.
Aumentar o tempo parlamentar dedicado ao trabalho das Comissões e diminuir o tempo afecto às Sessões Plenárias (24.ª)
(…) faz todo o sentido transferir para as Comissões Parlamentares, reforçando cada vez mais a sua componente política, uma parte substancial da função legislativa. Esta opção libertará as Sessões Plenárias para o verdadeiro debate político, desejavelmente contraditório, entre parlamentares e entre parlamentares e os Governos.
Garantir condições para a realização mais eficaz das actividades de contacto com o Eleitorado (25.ª)
Raramente estas actividades parlamentares chegam ao conhecimento da grande maioria dos eleitores, percepcionado nos desabafos comuns de “não sei quem é o meu Deputado a quem devo dirigir os meus problemas” ou “quando é para pedirem os votos sabem cá vir, mas depois nunca mais nos ligam”. Justifica-se uma divulgação institucional, incluindo na Internet, destas actividades parlamentares.
Melhorar o acolhimento inicial dos Deputados eleitos, particularmente os que o são pela primeira vez (37.ª)
A integração é feita lenta e casuisticamente e, na maior parte dos casos, por iniciativa do próprio Deputado. Esta realidade provoca uma aprendizagem longa da organização e do funcionamento da Assembleia da República. Em consequência regista-se uma desigualdade entre Deputados no exercício, em concreto, dos seus mandatos que urge remover.
Introduzir o Debate do Estado da Região (47.ª)
(…) é desejável que a Assembleia da República crie condições para se concentrar na análise de problemáticas de natureza regional, no âmbito do desenvolvimento harmonioso do país.
Deste modo, recomendamos a introdução de um novo debate regimental designado por Debate do estado da Região, a ocorrer em Sessão Plenária.
Divulgação das presenças e das faltas dos Deputados no sítio da Assembleia da República na Internet (48.ª)
Mais relevante do que a justificação administrativa é a justificação política, ou seja, os eleitores têm o direito a saber das presenças e das faltas dos Deputados ás reuniões da Assembleia da República.
Simplificar a elaboração dos Relatórios pela Assembleia da República (50.ª)
(…) redigi-los de modo a facilitar a sua leitura e compreensão por parte dos cidadãos.
Criação de Gabinetes de Atendimento aos Eleitores em cada círculo eleitoral (52.ª)
Desenvolvimento de um Programa de esclarecimento sobre as funções, organização e o funcionamento da Assembleia da República, em todas as Escolas do País (53.ª)
Criação da Página individual do Deputado (56.ª)
Envio periódico de uma newsletter da Assembleia da Republica e de cada uma das Comissões Parlamentares, para os cidadãos que o desejem (60.ª)
Envio de alertas por temas de interesse, para os cidadãos (61.ª)
Criação de um Portal para os jovens (62.ª)
Atribuir Prémios a trabalhos curriculares e científicos de investigação qualificada sobre a Assembleia da República (67.ª)
Os Deputados devem dispor de créditos para convidarem os cidadãos a visitarem a Assembleia da República (68.ª)
Todos os documentos da Assembleia da República devem ser públicos e colocados no sítio da Internet (77.ª)
Colocação dos Registos de Interesse Financeiros dos Deputados no Portal da Assembleia da República, da Internet (78.ª)
Fixação de horários e respeito pelo seu cumprimento (82.ª)
Fazer do Palácio de S. Bento um edifício livre de fumo (90.ª)
Nota: poderá consultar todo o documento em www.ps.parlamento.pt
Celso Guedes de Carvalho
3 comments:
cheira-me a cravos... a revolução... o teatro interventivo novamente... humm...
cheira? é que não tirando o justo valor destas propostas, considerá-las "revolucionárias" é duma pobreza franciscana.
de que serve a um jovem desempregado que não se possa fumar nos corredores do parlamento? que diferença faz a uma mulher que tem de renunciar à maternidade para poder manter o seu emprego que a página da AR tenha lá as faltas dos deputados? que significância adquire a criação dum Portal que envia alertas aos cidadãos para a dezena de administradores duma empresa do Estado que serão admitidos com a sua privatização?
bem, parlamentarismo inconsequente mascara muita coisa. teatro acomodado, talvez.
Não sabia que este meu post estava no seu blogue. Fico saisfeito por ter gostado e por divulgar. Um abraço. Celso Guedes de Carvalho (www.viagensnomeupartido.com)
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